quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Projecto 8 - "Capítulo Um"

- by Miguel Nogueira (DieaGun) - Este é o capítulo um do meu primeiro romance de ficção, intitulado "Projecto 8". O romance ainda se encontra em fase de escrita mas espero que gostem desta primeira amostra




Capítulo Um


Hoje toda a gente acorda ao som da chuva, de uma manhã cinzenta, um dia pálido, como um cadáver apodrecido, debaixo da terra que um dia ele próprio caminhou. Apenas nos aglomerados habitacionais de Washington D.C, se encontra tanta variedade de vida, uma mistura inumada por entre quatro paredes de vidro, à espera de alguém que atire a primeira pedra e liberte a vergonha, o medo que todas aquelas casas encerram dentro de si. São oito da manhã em ponto, o vento ruge como há muito não se ouvia, levando consigo as folhas que caem moribundas das árvores com o passar de estações. Ao fundo da rua, de dentro de um carro, ele fuma um cigarro e expira o fumo, que devagar desvanece mas que mesmo assim se impregna no ar e corrói a qualidade de vida. Desde as cinco da manhã que ele aguarda pacientemente. Ansioso vai olhando para o relógio enquanto saca outro bafo no cigarro. Não se via um temporal desta força há já algum tempo, mas os americanos já se começam a habituar à devastação da mãe natureza. A meteorologia ainda previu chuva e vento forte, mas nunca com esta intensidade. Como é normal nunca acertam realmente no que se vai passar com o tempo: uma ciência ambígua mas necessária. A porta de uma casa abre, um homem sai e abre o guarda-chuva. A filha chega-se a ele, pondo-se por baixo do guarda-chuva. A mãe vem à porta, baixa-se e beija com carinho a filha na cara. Levanta-se e beija o marido, sorrindo de forma suave, como uma breve despedida. Os dois apressam-se para o carro: um Hyundai Sonata metalizado. A rapariga acena à mãe, enquanto esta acena de volta, e fica a observar o carro desaparecer no vento e na confusão de folhas e lixo que pairam pelo ar embatendo contra tudo de forma violenta e indiscriminada. De dentro do carro preto, ele continua a fumar o seu cigarro, vê a porta fechar e, olha pelo retrovisor, não vendo o carro que acabara de partir, nem uma única pessoa na rua. Então chegou a hora. Abre o porta-luvas e retira umas luvas pretas que veste logo de seguida. Ele sai do carro, a chuva e o vento vão ao seu encontro de forma bruta, mas mantém-se firme, dá uma última passa no cigarro e atira-o para o chão. Este mal cai no chão, extingue-se. De gabardina e carapuço para cima, começa a dirigir-se para a casa. Os cabelos compridos molhados, fogem-lhe para a frente da cara, mas ele continua de olhos postos na porta. Atravessa o pequeno jardim da casa, decorado com arbustos, flamingos e, pequenos duendes, que agora jazem no chão caídos. Toda a relva está bem cortada e os arbustos bem aparados, indicando atenção e, trabalho. Ele encontra-se parado em frente à porta. A água escorre-lhe pela face, os cabelos voam à frente dos seus olhos, enquanto as pingas da chuva lhe caem das pontas dos dedos. Finalmente decide-se e toca à campainha. Espera durante uns momentos… nada! Não obtém resposta alguma nem ninguém abre a porta. Então, volta a tocar, desta vez pressionando por mais tempo o botão. Desta vez ele ouve alguém começar a descer as escadas, “Já vai, já vai!”, respondem do outro lado. A porta abre. À sua frente está a mulher ainda de robe, o cabelo está molhado, tinha acabado de sair do banho (provavelmente nem tinha acabado mas, ouvindo a campainha, saiu à pressa). Ele continua imóvel, apenas a observa. A mulher começa a estranhar a situação, não o reconhecendo, “Desculpe, mas quem é? E o que deseja?” – pergunta a mulher, um pouco assustada. A sua respiração começa a ficar mais acelerada, lê-se desconforto nos olhos dela, “Olhe vou fechar a porta, desculpe, mas vou ter que fechar”, ela vai bater a porta, mais eis que ele a empurra. Completamente estarrecida, fica parada. O homem aproxima-se dela. Uma faca desliza-lhe da manga da gabardina, agarra-a, e desfere um golpe na barriga da mulher. A faca vai bem fundo, ele certifica-se disso enquanto segura a mulher, com força, impulsionando ainda mais, e rodando a lâmina já dentro do seu corpo, evaporando vida. A mulher, não sabendo muito bem como, arranja forças, pega no candeeiro, que se encontra pousado em cima da mesinha da entrada ao lado da porta e, dá com ele na cabeça do seu atacante. O impacto é violento partindo o candeeiro em bocados. Foi o suficiente para o fazer tombar. A faca sai, ao mesmo tempo a mulher solta um grito de dor horrendo. Ela começa a chorar, enquanto o sangue teima em cair de forma ininterrupta. A ferida é demasiado grande e, profunda; o assassino sabia o que estava a fazer, só não contava com a determinação da mulher. Sabendo que não podia ficar ali muito tempo, já que ele não iria ficar atordoado por muito mais tempo, ela tenta fugir pela porta da frente, mas era tarde demais, a mão dele agarra-a pelo tornozelo impedindo-a de continuar. Então decide voltar para trás, sobe as escadas, o mais rápido que consegue, mas o golpe é demasiado doloroso fazendo-a cair de joelhos a dois degraus do fim. Ela acalma a respiração, tenta concentrar-se, levanta-se usando o corrimão e, segue rapidamente para o seu quarto. Fecha a porta à chave, mesmo sabendo de que não lhe servirá de nada se o homem fizer mesmo questão de forçar a entrada. Levanta o auscultador do telefone e, marca o número de emergências – o 911. A respiração dela está agora mais acelerada do que nunca; o coração bate muito mais rápido que o normal, o golpe começa a causar os seus devastadores efeitos: tonturas, falta de força começam a assinalar-se. - Bom dia, ligou para o 911. Em que posso ajudar? – Perguntou uma afável voz feminina do outro lado da linha. - Rápido, preciso de ajuda, por favor. Um homem entrou dentro de minha casa e atacou-me com uma faca… meu Deus, por favor, menina envie alguém, por favor, não consigo estancar o sangue, não tarda nada ele recupera os sentidos e vem atrás de mim. – Ela mostra-se desesperada, e finalmente as lágrimas irrompem dos seus olhos. - Mantenha a calma minha senhora. Indique-me o seu nome. - Patricia… Patricia Falen. - Senhora Falen, explique-me a situação para que possa tomar as devidas providências. Ouvem-se passos subir as escadas, em direcção ao quarto. A porta começa a abanar, ele bate com o ombro com força, mas ela parece não ceder. - Mas que raio é que você não percebeu? Está um homem dentro de minha casa e, atacou-me com uma faca. Tenho um enorme golpe na barriga, e não sei como é que ainda não desmaiei. - Diz completamente indignada e, surpreendida com a aparente calma da rapariga, perante a situação. - Pronto senhora Falen mantenha-se calma. Indique-me a sua morada. - Eu moro na rua… – Depois de muito bater, a porta acaba por ceder. - Senhora Falen? – Pergunta a rapariga – Ouve-se um grito do outro lado da linha – Senhora Falen? – Volta a insistir, mas apenas se ouvem ruídos. O homem já a havia agarrado, puxou-a pelos longos cabelos castanhos e, atirou-a com uma veemência extrema para o chão, senta-se em cima dela, olha-a bem nos olhos e, desta vez não vai permitir que ela lhe escape, afinal de contas, é um profissional. Os gritos ecoam por toda a casa, mas ninguém os ouve. Gritos mudos que se perdem no ar. Ele puxa-lhe a cabeça para trás, ela agita-se e tenta com todas as suas forças, libertar-se, mas estas já lhe começam a faltar, pouco mais pode fazer além de aceitar. Ele levanta a lâmina bem alto, os olhos de Patricia fitam aquele pedaço de metal brilhante que mais uma vez se prepara penetrar o seu já flácido corpo. A mão dele desce rapidamente e, faz um corte tão leve como seda no pescoço dela. Um pequeno corte que é o suficiente para lhe retirar a restante vida. Ela começa a tremer enquanto o sangue jorra do pequeno corte, a cor azul dos seus antes brilhantes olhos, começa a desvanecer. Ele olha-a, com uma atenção diabólica, adorando cada momento, enquanto sente a vida dela escapar a cada batimento do seu coração. Ela resiste, não se quer deixar ir, não já. As suas mãos fecham com uma força surpreendente, os olhos fecham, lágrimas deixam-se passear pelo seu rosto, lágrimas revoltosas por sentir uma profunda dor contra Deus, contra o mundo, contra os pais do homem que neste momento a mata, perguntando-se no que errou, que mal fez ela para merecer tal final e deixar para trás a vida com que sempre sonhou. - Deixa-te ir, a dor desaparece. Apenas deixa-te ir, não tens mais nada a que te agarrar. – Diz ele com muita calma, transparecendo que não era a primeira vez que matava alguém. Aquelas palavras, ecoam na sua mente, o seu coração vai batendo devagar, concentrada no seu ritmo o momento chega. Toda a cor azul dos seus olhos deu lugar ao branco. A vida é como um pedaço de fumo, está sempre dentro de nós mas nunca o conseguimos agarrar, até que acaba por se diluir com o ar e, desaparece. Agora que o seu trabalho está feito, apenas a voz proveniente do telefone, ecoa pelos corredores da casa. Ele pousa o auscultador, e vai, levando consigo a vida e deixando a morte.

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Depois de Tudo, Ficou Nada...

-by Miguel Nogueira (DieaGun)

Depois de tudo, ficou apenas um silêncio amargo, demasiado cruel para ambos.
Ela afasta-se, com a aliança que ele lhe dera, e ela faz a promessa de que nunca a irá retirar, é o símbolo de um amor incumprido, de um amor incompleto, nunca concretizado. Ele deixa-a ir, não fala, não grita, fica calado. Ela olha para trás, esforça-se para manter as lágrimas, que teimam em cair, dentro do seu coração gelado e despedaçado. E o "Amo-te" que ambos desejavam tanto dizer, fica perdido sem que ninguém o compreenda. Fica o espaço vazio da última vez que se viram.

terça-feira, 28 de agosto de 2007

A História de António “Tó” Kubrick Oliveira

-by Miguel Nogueira (DieaGun)

Era uma vez um menino chamado Tó. António, seu nome de baptismo, nunca fora uma rapaz muito afortunado, logo no dia do seu baptizado, enquanto o padre lhe limpava com água benta o sarro atrás das orelhas, este sofre uma trombose de figadeira aguda e, cai por cima do Tó, que se vê confinado no balde de água benta, onde era feito o baptismo. Tó acaba por ser salvo, mas o sarro atrás das orelhas nunca haveria de sair. Tó dedica-se desde cedo ao negócio da família, criação de pulgas marroquinas provenientes das ilhas Fiji. O negocio vai de vento em popa, e várias pulgas trapezistas, ilusionistas e palhaças, são vendidas a circos e até alguns políticos, chegando mesmo a correr rumores que o duplo utilizado por Marques Mendes, em alguns dos seus congressos e aparições públicas, e até mesmo para o “Ai! Isso tigrão, dá-me mais”, seria uma pulga criada e ensinada por Tó.
Mas uma tragédia abate-se sobre Tó, ele perde todas as suas pulgas num acto criminoso, perpetuado por vários cães, muitos até hoje pensam que os cães mercenários haviam sido enviados por Bob Marley, mas nenhuma acusação formal chegou a ser feita.
Tó fica na miséria, mas depressa se adapta e se torna num revolucionário popular. Tó vira Gay e funda o grupo Irish Spit Boys, o grupo chega mesmo a participar em grandes digressões regionais com os FingerTaipas, Abril Laringe, e Samuel o Chachopo. Depois de ganharem vários discos de latão, e alcançarem vendas superiores a dois discos, os Irish Spit Boys decidem por um ponto final no grupo.
Tó decide então se reformar, e vai viver para a zona ribeirinha de Valadares, onde é considerado bilionário, com a quantia de 3.99€ na sua conta bancária. Tó vive feliz na sua casa de dois andares, em cima de uma azeitoneira, mas certo dia ao comer um prato de Chili com arroz, Tó faz mal o buraco para meter a carne e acaba por sofrer uma dupla sirrose pulmonar. Ao ir a correr para o hospital, Tó dá uma cabeçada num vidro bem limpo, dá dois passos para trás, calca o rabo de um gato, gato esse que lhe salta para a cara e o faz cair para a estrada, no exacto momento em que passava uma carrinha de limpeza. Tó morre, depois de a carrinha lhe limpar o sarro atrás das orelhas, aquele sarro era o seu calcanhar de Aquiles, era a sua madeixa de Sansão. Os Irish Spit Boys lançam um “Best of” com as suas 3 melhores músicas, e várias pulgas comparecem ao funeral, crendo-se que até Marques Mendes marcou presença.


RIP- António “Tó” Kubrick Oliveira (1988-2007)

sábado, 25 de agosto de 2007

Uivos na Solidão da Noite

-by Miguel Nogueira (DieaGun)

Aldeia isolada por montes e vales, e uma assombrosa floresta. Tempo que foi passando e deixou a vida para trás. Um velho aguarda o passar do corvo pela sua porta, os anos trataram de lhe retirar as expressões da sua cara que demonstravam sentimentos. Sem nada para além da doença que o vai corroendo, e do uivar dos lobos, famintos, durante a noite, que procuram algo que a morte já levou há muito tempo. Eles continuam a uivar num desespero agonizante de fome, como crianças em tempo de guerra, a chorar por um simples pedaço de comida que apazigúe os seus estômagos carenciados. Mas é o uivar dos lobos que não deixam o velho fechar os olhos, são a única companhia que tem, não se pode dar ao luxo de ao dormir perder a conversa dos seus “amigos”.
O sussurro solitário do vento, o estalar das velhas madeiras doridas pela humidade, as pedras disformes comidas pelo tempo, que agora montam as casas vazias desprovidas de vida e preenchidas de mistérios. Histórias por contar, encerradas, assombram os caminhos sem caminhantes, sem passos para os encher, apenas a terra revirada pelo tempo que passa. Já ninguém visita estes caminhos, a terra fica imóvel.
Agora só o velho se atreve, por vezes, caminhar pelos caminhos que mais ninguém pisa. Sim por vezes, porque o tempo tem-lhe retirado a força dos músculos e os ossos do seu corpo apenas servem para aguentar a sua carcaça de pele murcha. Pouco se mexe, passa grande parte dos seus dias sentado nos degraus de pedra em frente de sua casa, à espera do grande corvo negro ceifador de vidas.
Os seus dias passam com o lento desfilar das nuvens, que parecem se acomodarem num pequeno espaço no céu, mas devagar lá se vão movendo. Todos os dias são iguais para quem aguarda a morte à sua porta. À noite os lobos voltam a uivar, aquecem o corpo trémulo e gélido do velho moribundo, uivos que ecoam por entre o negro da floresta em redor da aldeia, atravessam a noite até aos ouvidos já estragados do velho solitário, deitado na sua cama. Os olhos nunca fecham, e ao primeiro raio do Sol, levanta-se esperando a chegada do grande corvo negro. Mais um dia.
Mas hoje é um dia diferente, nuvens carregadas de negro atravessam-se no caminho do Sol, o velho levanta a cabeça, a pálida cor dos seus olhos pintam-se de preto, e sente que este é o seu dia. A noite chega mais cedo hoje, os uivos dos lobos acompanham o nascer da Lua. O velho continua a aguardar a chegada do grande corvo negro, mas este demora-se a chegar e a levar a sua vida, provavelmente teve de fazer outras paragens. Finalmente umas largas asas negras avistam-se sobre a claridade da Lua, este paira durante momentos, como que procurando a sua vítima, deixando-se ser bem observado, para que o velho saiba que a morte paira por cima do seu corpo mórbido, mas de alma jovem, pronta a ser levada.
O velho aconchega os ouvidos com os uivos dos seus queridos amigos, os lobos, que espreitam por entre as árvores milenares da floresta. O corvo começa a voar mais baixo, preparando-se para o toque, para o ataque mortal. O velho aguarda pacientemente, mas agora os uivos parecem mais um choro, o velho sente que lhes deve algo, pelos longos anos de cantarolar, que tanta companhia lhe fizeram nas noites abandonadas da aldeia. Os lobos também sentem que o seu único ouvinte está prestes a abandoná-los, e já não terão motivos, mais razão para uivar até de madrugada, senão por saudade. O velho levanta-se dos degraus que nunca aquecem, independentemente do tempo lá passado sentado.
Ele corre, bem já não é bem correr, mas para ele aquela forma de movimentar as pernas, é correr. Segue em direcção à floresta, procurando os uivos, o grande corvo negro observa-o, persegue-o, ele tem de levar hoje a alma do velho, a sua hora chegou. Ele corre, corre, sem saber por onde segue, mas também não interessa, ele sabe que os seus amigos o irão encontrar. Os uivos ficam mais fortes, mais perto, mais agressivos. Avista uma clareira, um local rodeado de portas sem fim, que não levam a lado nenhum. Ele senta-se no centro da clareira, o grande corvo negro não se demora a sobrevoar o local, volta a desenhar círculos em volta da Lua, tão afastada do mundo. Os uivos param, dezenas de olhares vermelhos, cravados de fogo, surgem por detrás de cada uma das portas da clareira. Os seus amigos chegaram, seguiram o cheiro a pele podre, mas mesmo assim apetecível. O velho mantém-se calmo, quieto. As dezenas de lobos amigos famintos saltam esgazeados de fome. Sequiosos rasgam a carne, partem ossos, devoram o corpo do velho. Em alguns minutos pouco resta do velho solitário, agora todos os seus amigos têm um pedaço dele. O corpo evapora-se mas a alma fica. O grande corvo negro pousa junto aos restos do velho, debica um pouco a sua carne, e de seguida levanta voo. O grande corvo negro voa à procura de uma nova aldeia onde vida brote com a aurora de um novo dia, talvez aí ele consiga entregar um pouco de morte com o desfalecer do Sol e o nascimento da Lua.
Os lobos uivam.

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Olá a todos,

Esta é a minha primeira incursão na "sociedade" dos blogs, nunca havia tido curiosidade em criar um, mas as coisas mudam. Espero conseguir moldar este pequeno diário, por assim dizer, e conseguir dar-me a conhecer, espero que consiga ser um reflexo da pessoa que sou e dos meus pensamentos. Mas bem chega de palavreado inútil.

Os primeiros dois posts do blog "It's Evolution" serão dedicados aos meus dois livros, editados pela Corpos Editora: Fragmentos de Ninguém (editado a 10 de Novembro de 2006) e Lua Morta (editado a 18 de Maio de 2007)

Espero que gostem,

Kiss Kiss Bang Bang

Lua Morta


Louco Social

Entusiasticamente, corres e tropeças, gritas e berras, levantas-te e cais. Atravessas ruas sem medo, um carro passa, quase te desfaz em cacos. O condutor envia palavras insultuosas na tua direcção. Tu não ouves. És um louco social, sem parâmetros nem roupas. És livre e vergonhoso. Torturas cada pessoa da tua vida com teus pensamentos. Pintas os momentos do teu respirar de forma abstracta, e juntas surrealismo à tua casa.

Incendeias vidas, queimas verdades e extingues mentiras com um bafo gelado.

“ Um Louco Social!” – Chamam-te eles.

Mas tu és tu, és um ser certo na tua ideia, do que deve ser a eterna juventude do espírito. Um freguês que consome a morte, olha à sua volta e degenera os elementos.

“Um Louco Social!” – Chamam-te eles

Crias avenidas de liberdade na tua mente, onde entusiasticamente, corres e tropeças, gritas e berras, cais e não te levantas. Os teus joelhos sangram, arrastas os ossos pelo chão. Mas o que te dói mais são as lágrimas de sangue que choras, que te obrigam a chorar, por todos os muros que te erguem em forma de protesto.

“Um Louco Social!” – Chamam-te eles.

Vês o teu retrato quebrado pela idade. Já não corres nem tropeças, já não gritas e berras, agora cais e não te levantas. Um animal amestrado pelas palavras e imagens de hoje em dia.

“Olhem mais um de nós. Um animal feroz, sem dentes nem rugido.” – Dizem eles.

Fragmentos de Ninguém


Estranha forma de viver

A impetuosidade das tuas histórias, criam hastes que não podes suportar. Num dia de loucura a tua palavra, o género que criaste, tornam-se símbolos da tua inquietude. E valores que um dia tomaste teus, agora repudias em nome de algum Satanás que devagar chupa as virtudes do teu ser.Olho-te, e agora carregas um saco de mentiras que tentas vender, dou passos para me aproximar de ti, mas continuas tão obcecado com a tua repreensão, e aquilo a que chamas liberdade são apenas momentos de tirania.
Estranhas palavras que louvas e agora admiras, mudaste tanto desde o nosso tempo de rebeldia, aceitaste de forma tão suave a fornicação da tua alma.
Devagar vou-te encontrar e sei que és apenas uma sistematização da nossa sociedade, mas mesmo assim não te esforças para romper as amarras que fazem teus braços sangrar. Não te preocupes, eu não vou fugir, eu fico e luto. Fico e luto.