
O sussurro solitário do vento, o estalar das velhas madeiras doridas pela humidade, as pedras disformes comidas pelo tempo, que agora montam as casas vazias desprovidas de vida e preenchidas de mistérios. Histórias por contar, encerradas, assombram os caminhos sem caminhantes, sem passos para os encher, apenas a terra revirada pelo tempo que passa. Já ninguém visita estes caminhos, a terra fica imóvel.
Agora só o velho se atreve, por vezes, caminhar pelos caminhos que mais ninguém pisa. Sim por vezes, porque o tempo tem-lhe retirado a força dos músculos e os ossos do seu corpo apenas servem para aguentar a sua carcaça de pele murcha. Pouco se mexe, passa grande parte dos seus dias sentado nos degraus de pedra em frente de sua casa, à espera do grande corvo negro ceifador de vidas.
Os seus dias passam com o lento desfilar das nuvens, que parecem se acomodarem num pequeno espaço no céu, mas devagar lá se vão movendo. Todos os dias são iguais para quem aguarda a morte à sua porta.
Mas hoje é um dia diferente, nuvens carregadas de negro atravessam-se no caminho do Sol, o velho levanta a cabeça, a pálida cor dos seus olhos pintam-se de preto, e sente que este é o seu dia. A noite chega mais cedo hoje, os uivos dos lobos acompanham o nascer da Lua. O velho continua a aguardar a chegada do grande corvo negro, mas este demora-se a chegar e a levar a sua vida, provavelmente teve de fazer outras paragens.
O velho aconchega os ouvidos com os uivos dos seus queridos amigos, os lobos, que espreitam por entre as árvores milenares da floresta. O corvo começa a voar mais baixo, preparando-se para o toque, para o ataque mortal. O velho aguarda pacientemente, mas agora os uivos parecem mais um choro, o velho sente que lhes deve algo, pelos longos anos de cantarolar, que tanta companhia lhe fizeram nas noites abandonadas da aldeia. Os lobos também sentem que o seu único ouvinte está prestes a abandoná-los, e já não terão motivos, mais razão para uivar até de madrugada, senão por saudade. O velho levanta-se dos degraus que nunca aquecem, independentemente do tempo lá passado sentado.
Ele corre, bem já não é bem correr, mas para ele aquela forma de movimentar as pernas, é correr. Segue em direcção à floresta, procurando os uivos, o grande corvo negro observa-o, persegue-o, ele tem de levar hoje a alma do velho, a sua hora chegou. Ele corre, corre, sem saber por onde segue, mas também não interessa, ele sabe que os seus amigos o irão encontrar. Os uivos ficam mais fortes, mais perto, mais agressivos. Avista uma clareira, um local rodeado de portas sem fim, que não levam a lado nenhum.
Os lobos uivam.
Um comentário:
oi .. so pa dizer o k ja sabes... sabes k dos contos k eu cnheço teus este é o meu favorito..continua axim.. wuv u
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